Jorge Queiroz As histórias de um rótulo
“Fazer um rótulo é algo diferente do que costumamos fazer e que eu nunca tinha feito. E estar ao lado de tantos outros colegas que fazem parte desta colecção é grafiticante"
Na impossibilidade de nos encontrarmos pessoalmente, o convite foi feito através da aplicação zoom, em Fevereiro de 2021. Vivíamos todos um dos períodos mais incertos das nossas vidas e seria assim que iríamos comunicar com o artista Jorge Queiroz, durante todo o processo de criação do novo rótulo do Esporão Reserva branco.
Meses depois e uma obra completa, encontramo-nos, finalmente, na origem deste vinho – a Herdade do Esporão. Na nossa garrafeira, na cave, com as obras à frente, o artista fez uma viagem por todo o caminho percorrido até aqui. «Fiquei muito feliz com o convite. Além do Esporão ser uma marca que já conhecia, o meu irmão João Queiroz foi o artista convidado, em 2014. Fazer um rótulo é algo diferente do que costumamos fazer e que eu nunca tinha feito. E estar ao lado de tantos outros colegas que fazem parte desta colecção é grafiticante».
Além do reconhecimento e do prestígio de estar ao lado de outros artistas com a sua obra, foi o próprio exercício, o desafio que o fez aceitar e continuar. «Isto de desenhar um rótulo é algo que projecta o nosso trabalho numa outra dimensão. Como é que se passa um desenho que já se sabe que vai prestar aquele propósito. Um projecto que levei como um exercício desafiador».
Desde a percepção do que é uma garrafa, do seu peso, o que representa o rótulo e imaginar a diversidade de pessoas que vão observar aquela imagem, em diferentes contextos – foram algumas das questões que surgiram durante a criação. «Quando se vai para uma exposição está-se à espera de ir ver a exposição. Quando se vê um desenho numa garrafa não é por causa do desenho, aquele desenho vai estar inserido em diferentes contextos, em momentos especiais. Eu queria que o próprio rótulo fosse tema de conversa».
Tentar imaginar esse lugar que um rótulo vai prestar é um processo sem limites. Um rótulo é uma obra que está sujeita a ser transportada, exportada, ignorada, mas também pode ser um detalhe que se destaca e até factor decisivo na hora de comprar um vinho. «Fiz pesquisa e estive a ver muitos rótulos de vinhos e é muito difícil perceber o porquê de cada escolha e a sua inspiração. Foi interessante pensar e imaginar esse lugar – o que é e o que irá ser. Pensar em tudo isto é muito interessante para quem está a fazer um exercício destes».
O rótulo do Esporão Reserva branco faz parte de um conjunto de seis desenhos que o artista considera apenas uma obra, uma história dividida em várias partes. Quando olhamos para este desenho em específico, no centro destaca-se a presença de Dionisio (deus do vinho na mitologia grega), envolvido em imagens que representam o processo de vinificação. «O processo de fazer vinho aparece como uma marca forçada, repetitiva. E há uma espécie de teia a prender o inventor, o Dionisio. A escolha das cores foi gosto pessoal e também de possibilidade de escolher tinta, de misturar cores e criar contrastes. O lápis tinha que ser uma diferente para haver uma sobreposição da sua cor».
Ao juntar estes dois mundos alusivos ao vinho – o da sua produção e o de consumo -, o artista chegou ao lugar que tanto ambicionava. «É engraçado ter conseguido um desenho para uma coisa tão especifica. Tem as suas características próprias em que se tem que pensar. Esse enunciado é bastante rico para desenvolver o trabalho. Tem um lugar diferente de qualquer outro desenho que fiz, o lugar do desenho do rótulo do vinho. Fazer o desenho para ali tem problemas próprios e é esse o seu interesse».
O Esporão Reserva branco 2020 já está disponível em Portugal e não só. É agora que conseguimos palpar esse lugar que Jorge tanto imaginou e que serviu de inspiração. Haverá sempre de ser único e especial para cada momento e contexto. Para cada um de nós. Tal como o seu interior.