O Caminho Bio da Herdade do Esporão

O Esporão nasceu no Alentejo com a vontade de fazer os melhores vinhos. Ao longo dos anos, aprendemos que a agricultura biológica contribui para esta missão. Protegendo os solos e aumentando a resiliência e qualidade das vinhas, conseguimos obter uvas mais saudáveis e equilibradas, que requerem menos intervenção na adega, e que nos permitem produzir vinhos com maior identidade, sentido de lugar, sem produtos nocivos à nossa saúde e ao meio ambiente.

Todas as vinhas no Alentejo, na Herdade do Esporão, Herdade dos Perdigões, Lavradores e Enxofral, estão certificadas como biológicas. O mesmo com todas as vinhas da Quinta dos Murças, no Douro. As vinhas do Esporão representam assim, cerca de 18% da produção biológica total do país. A ambição estende-se ao azeite e, atualmente, estão plantados cerca de 93 ha de olival na Herdade do Esporão, com quatro variedades de azeitonas, todos em modo de produção biológico. Este caminho começou a ser traçado em 2007, com o Olival dos Arrifes. Os olivais da Herdade dos Perdigões e da Quinta dos Murças acrescentam 3 ha e 19 ha, respetivamente, igualmente em modo de produção biológico.

O caminho de sustentabilidade tem vindo a ser feito na adega e vinha, proporcionando uma estrutura que não só reconhece o que já alcançámos, mas também nos incentiva a continuar a melhorar. A adega da Herdade do Esporão está rodeada por habitats naturais e há muito que trabalhamos para melhorar e proteger os ecossistemas locais. Mantemos ativamente corredores de vida selvagem, preservamos espécies nativas e integramos práticas de agrofloresta que garantem que a gestão das vinhas e dos olivais esteja em harmonia com a natureza. A introdução de sebes, a manutenção de culturas de cobertura e a instalação de caixas para morcegos para incentivar o controlo natural de pragas são apenas alguns exemplos de como a biodiversidade desempenha um papel fundamental no nosso modelo agrícola. A adaptação às alterações climáticas é uma prioridade no Esporão. A nossa abordagem à agricultura de precisão, apoiada por tecnologias avançadas como a imagem de satélite e o machine learning, permite-nos gerir de forma eficiente o uso de água e responder às condições ambientais em mudança. Além disso, o nosso compromisso com a economia circular reflete-se em práticas como a compostagem de resíduos orgânicos provenientes das operações da vinha e da adega, que são depois devolvidos ao solo para nutrir as futuras colheitas.

O Esporão está comprometido com o apoio às comunidades locais e com o bem-estar dos seus trabalhadores. Participamos em várias iniciativas de promoção da cultura local, incluindo o apoio a artesãos locais e programas educativos que envolvem as gerações mais jovens nas práticas agrícolas. Além disso, implementámos políticas de trabalho justas e promovemos um ambiente de trabalho saudável e seguro para todos os colaboradores.

Alguns exemplos específicos incluem:

PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS HERDADE DO ESPORÃO

As práticas agrícolas utilizadas na Herdade do Esporão têm como objetivo principal recuperar, e melhorar a fertilidade dos solos, diminuir a erosão, promover o equilíbrio entre as pragas e os seus auxiliares, aumentar a eficiência no consumo de água utilizada na rega, aproveitar os subprodutos gerados na atividade agrícola para produzir fertilizantes a utilizar nas nossas culturas, conservar a biodiversidade, e preservar material vegetativo em risco de desaparecimento dos encepamentos nacionais.

CAMPO AMPELOGRÁFICO

Plantado em 2010, o campo ampelográfico é um laboratório a céu aberto de aproximadamente 10 ha, onde estão representadas 189 castas. O campo reúne castas das regiões do Alentejo e Douro, principais castas das restantes regiões vitivinícolas de Portugal, bem como outras castas nacionais com pouca expansão, mas com potencial vitivinícola. Igualmente algumas castas internacionais com potencial para a região do Alentejo. Este campo foi criado tendo como objetivo a preservação do património vitícola nacional, a preservação da diversidade clonal, promovendo o estudo da adaptabilidade de cada casta às alterações climáticas, definindo o potencial enológico das diferentes variedades, protegendo castas antigas do perigo de extinção.

AGRICULTURA DE PRECISÃO

A heterogeneidade de solos da Herdade do Esporão levou à adoção de medidas de gestão inovadoras, explorando a variabilidade existente aquando da instalação de uma vinha e respetivo período de produção. Na instalação a variabilidade nas características do solo pode ser explorada através do levantamento da condutividade elétrica aparente do solo do NDVI (índice vegetativo de diferença normalizada) da parcela nos anos anteriores à instalação. Durante o período de produção a variabilidade é analisada a partir de índices e imagens de satélite (recolhidas de 5 em 5 dias) e/ou drone, compiladas durante as fases críticas do ciclo vegetativo (abrolhamento, floração, pintor e maturação). Tem sido feita uma aposta de investigação em novas tecnologias como. por exemplo, o recurso a Machine Learning. Entre diferentes projetos desenvolvidos nesta área, destaca-se o realizado com a consultora EY-Parthenon com o propósito de analisar o impacto de diferentes fatores na produtividade das vinhas, previsão e simulação da produção a curto, médio e longo prazo. Com forte componente tecnológica esta abordagem produz uma leitura aprofundada de informações recolhidas ao longo dos anos - incluindo imagens de drones e satélites, dados das estações meteorológicas e da rega, com registos de intervenções em cada talhão – através de técnicas de data science, para criar modelos personalizados que facilitam o apoio à decisão.

COBERTOS VEGETAIS

A manutenção de cobertos vegetais nas entrelinhas contribui para a diminuição de erosão e compactação de solos, aumento da atividade microbiológica, infiltração de água, matéria orgânica e fertilidade dos solos. Os cobertos vegetais promovem a biodiversidade, servindo de abrigo para a fauna auxiliar. Na Herdade do Esporão são mantidos cobertos vegetais naturais e semeados, permanentes ou temporários. Nos cobertos vegetais semeados o plano de sementeira considera vários elementos como necessidades de fertilização, vigor da vinha ou incidência de pragas. As misturas de sementes são baseadas em espécies de plantas nativas que ocorrem naturalmente nas diferentes propriedades, predominando leguminosas, com um importante papel na fixação do azoto.

GESTÃO DA ÁGUA E REGA

Adoção de estratégia de rega com consumo muito moderado de água, promovendo stress hídrico na planta, com qualidade acrescida. Nesse sentido foram adquiridos equipamentos de monitorização do clima (estações meteorológicas), água do solo (Enviroscans e Diviners) e água das plantas (câmara de pressão). Instrumentos fundamentais para a tomada de decisão, aumentando o rigor das aplicações, evitando perdas de água por escorrimento e drenagem.

OS ANIMAIS

Morcegos e ovelhas são dois dos principais aliados no equilíbrio do ecossistema da Herdade do Esporão. Os morcegos são essencialmente insetívoros, consumindo diariamente cerca de um terço do seu peso corporal em insetos, convertendo-o num aliado importante na regulação populacional de insetos, especialmente os inimigos nas culturas. Trabalhos realizados por uma equipa da Universidade de Évora, em 2018, permitiram identificar a presença de oito espécies de morcegos na Herdade do Esporão (Pipistrellus kuhlii, Pipistrellus pygmaeus, Pipistrellus pipistrellus, Eptesicus sp., Nyctalus leisleri, Myotis daubentonii, Myotis myotis e Tadarida teniotis), e que, de um modo geral, as vinhas eram áreas pouco exploradas pelos morcegos, dada a menor disponibilidade de insetos-presa e reduzida cobertura arbórea e disponibilidade de abrigo. Na sequência do estudo foram instaladas 20 caixas-abrigo para morcegos, em postes e árvores, nas áreas de vinha e olival ou proximidade, fornecendo abrigo e potenciando a atividade dos morcegos nas áreas agrícolas. A análise dos dejetos de morcegos junto às caixas-abrigo permitiu verificar que uma parte significativa da dieta dos morcegos é composta pela traça-da-oliveira, uma das principais pragas do olival. As ovelhas auxiliam no pastoreio da vinha (na altura de dormência das vinhas) e olival, conduzindo a uma poupança direta na alimentação e utilização de fertilizantes, aproveitando os excrementos deixados no solo como adubo, diminuindo as horas de trabalho mecânico e manual no controlo de plantas infestantes.

COMPOSTAGEM

A compostagem promove a transformação da matéria orgânica presente nos resíduos orgânicos biodegradáveis, permitindo a sua reciclagem, tratamento, valorização e obtenção de um produto final de qualidade - o composto. Na Herdade do Esporão são aproveitados parte dos subprodutos orgânicos gerados nas atividades diárias, como engaços, folhas de oliveira e bagaço de azeitona, originando um composto produzido de forma natural, rico em nutrientes essenciais paras as culturas.

SEBES DE FIXAÇÃO DE AUXILIARES

Em 2008, o Esporão iniciou o levamento e monitorização anual da Herdade do Esporão, com especial foco nas culturas existentes na herdade. Os trabalhos desenvolvidos identificaram uma menor abundância e diversidade de grupos de auxiliares no interior das vinhas, em relação às margens, e levaram à criação de um plano que previa a implementação de estratégias para a fixação de artrópodes auxiliares (polinizadores e inimigos naturais das pragas da vinha), através da criação de infraestruturas ecológicas que permitissem compartimentar a vinha, como a instalação de sebes nas entrelinhas e nas margens das vinhas. Em 2014, foi feito um novo levantamento das pragas existentes nas vinhas da herdade, e feita uma avaliação das espécies vegetais mais adequadas à fixação dos inimigos naturais. Após a avaliação procedeu-se à plantação de linhas no interior da vinha com as espécies roseira-brava, madressilva, amora-de-silvas, abrunheiro-bravo, folhado, romãzeira, sanguinho-das-sebes, loureiro e sabugueiro. Desta forma é possível não só potenciar o aumento das espécies auxiliares, de forma a haver um maior controlo sobre as pragas, como promover equilíbrio no futuro.

CONFUSÃO SEXUAL

A confusão sexual é um método de luta preventiva contra a traça-da-uva, apostando na libertação homogénea de feromonas ao longo da vinha. A saturação da atmosfera impede os machos de localizar as fêmeas e, consequentemente, não havendo acasalamento, não são postos ovos, controlando o nascimento de mais lagartas.