Enquadramento geral do ano agrícola
Depois de um 2024 mais moderado e previsível, 2025 trouxe consigo desafios marcados pela inconstância climática e pelos contrastes acentuados entre estações. Dezembro foi excecionalmente seco, seguido de um ciclo de quatro meses, de janeiro a abril, com precipitação muito acima da média no Alentejo, e substancialmente inferior no Douro e Vinho Verde. Facto curioso, choveu substancialmente mais no Alentejo que no Douro (Baixo Corgo), 745,6mm versus 533mm.
A primavera chuvosa criou condições favoráveis ao aparecimento de doenças fúngicas, sobretudo míldio, que obrigaram a uma atenção redobrada das equipas agrícolas. O final da estação, quente e seco, assistiu a sucessivas ondas de calor, particularmente no Alentejo e no Douro, com mais de dez dias consecutivos acima dos 40 °C. O calor prolongado e a ausência de chuva reduziram rendimentos, com bagos até 30% mais pequenos. Ainda assim, a fenologia manteve-se globalmente regular, e as noites mais frescas que se seguiram beneficiaram a reta final das maturações, especialmente nas castas tintas.
Foi um ano de contrastes, de menor produção, mas de matéria-prima concentrada e equilibrada. Um ano que testou a capacidade de resposta das equipas e exigiu planeamento, reforçando a importância do conhecimento acumulado, da agricultura biológica e do trabalho conjunto entre viticultura e enologia. O resultado são vinhos com carácter, que refletem a diversidade e resiliência dos nossos territórios.
Alentejo
Herdade do Esporão
Agricultura biológica
Na Herdade do Esporão, 2025 foi um ano de extremos: mais quente e húmido que a média dos últimos 26 anos, com uma temperatura média anual de 17,85 °C (mais 0,92 °C que o histórico) e precipitação de 745,6 mm, cerca de 41,5% acima da média. Esta chuva concentrou-se sobretudo na primavera, proporcionando condições ideais para o desenvolvimento de míldio que, felizmente, teve impacto quase nulo na produção graças ao trabalho preventivo. A agricultura em regime biológico, com o coberto vegetal ativo até mais tarde no ciclo, permitiu minorar significativamente o impacto das pragas.
As ondas de calor em junho e julho afetaram algumas castas, como a Petite Syrah e Antão Vaz, mas a resposta das equipas foi exemplar, com controlo rigoroso de maturações, provas frequentes na vinha e colheita no ponto ideal. A vindima começou a 5 de agosto nos brancos (com Viosinho, Gouveio e Semillon) e a 11 de agosto nos tintos (com Aragonez, Syrah e Trincadeira).
A produção total foi de 2 155 800 kg, com produções próximas da média anual para a área de produção, cerca de 5% abaixo. A reestruturação agrícola que levou à redução de área de vinha, com menos 184ha, não permite fazer comparações com anos anteriores.
Nos brancos, os mostos revelaram fruta mais madura, aromas florais intensos e acidez equilibrada. Nos tintos, predominam vinhos de fruta vermelha madura, com camadas aromáticas profundas e taninos firmes, mas polidos. As castas autóctones, bem-adaptadas ao clima do Alentejo, como a Tinta Caiada, o Moreto, o Roupeiro ou a Diagalves, destacaram-se pela resiliência e qualidade.
Num ano exigente, a agricultura biológica e o conhecimento acumulado das vinhas foram determinantes para preservar frescura, equilíbrio e expressão do território.
Douro
Quinta dos Murças
Agricultura biológica
2025 foi um ano muito quente e seco na Quinta dos Murças, com uma temperatura média anual de 16,6 °C (mais 0,9 °C que o habitual) e precipitação total de apenas 533 mm, menos 32% que em 2024.
O início do ano foi marcado por chuvas intensas, seguidas por um verão longo e extremamente quente. A onda de calor em agosto, com temperaturas acima dos 40 °C durante dez dias consecutivos, reduziu o tamanho dos bagos e o peso médio dos cachos. Apesar disso, as películas espessas e a maturação homogénea revelaram excelente concentração e qualidade, reforçando o caráter varietal dos vinhos.
O míldio apareceu de forma localizada, sem impacto significativo, e o oídio teve baixa incidência devido ao calor. As pragas foram controladas, embora se tenha notado maior presença da cigarrinha-verde em parcelas a poente.
A produção total foi de 87 720 kg, cerca de 42% abaixo de 2024, mas alinhada com os anos anteriores a 2023. Os mostos mostraram boa acidez, taninos presentes e álcool equilibrado, prometendo vinhos de cor intensa, estrutura firme e fruta bem definida, com tensão e elegância.
Num contexto de seca e calor, a agricultura biológica e o trabalho atento das equipas de campo foram fundamentais para assegurar vinhas equilibradas e uvas sãs. As castas Touriga Nacional e Touriga Franca destacaram-se pela resiliência e qualidade.
Vinho Verde
Quinta do Ameal
Produção integrada
Na Quinta do Ameal, o ano de 2025 foi mais moderado em temperatura, com uma média anual de 15,3 °C (ligeiramente inferior aos últimos anos), mas com verões muito quentes e precipitação substancialmente abaixo de 2024: 1 557,4 mm, menos 59% face ao ano anterior.
A chuva intensa entre janeiro e abril criou condições propícias ao aparecimento de míldio, particularmente em parcelas em conversão para produção em modo biológico, o que levou à suspensão temporária desse processo. Ainda assim, a dedicação das equipas agrícolas permitiu preservar a qualidade das uvas e minimizar perdas.
A vindima teve início no final de agosto, em linha com anos anteriores, sob clima ameno e seco. A produção total foi de 137 770 kg na Quinta do Ameal e 115 680 kg na Torre das Donas, valores cerca de 30% abaixo de 2024.
Apesar da quebra produtiva, a qualidade destacou-se: brancos concentrados, de fruta límpida, acidez viva e finais longos e precisos, com potencial de guarda nas melhores parcelas.
Síntese final
A Vindima de 2025 ficou marcada pela quebra geral de rendimentos, pela concentração da matéria-prima e pela resposta exemplar das equipas em três denominações de origem com condições muito distintas. Foi um ano que testou limites, mas também demonstrou a força do compromisso do Esporão com a agricultura biológica, a sustentabilidade e o profundo conhecimento dos seus territórios.
Entre desafios climáticos e decisões cirúrgicas, os vinhos de 2025 refletem a autenticidade de cada lugar:
No Alentejo, equilíbrio e fruta expressiva;
No Douro, estrutura e intensidade;
No Vinho Verde, frescura e precisão.
Um ano exigente, mas pleno de carácter, fiel ao território, à natureza e ao tempo.