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O lado selvagem da Herdade do Esporão

Natureza

Quem visita a Herdade do Esporão sabe o que pode esperar em termos de enoturismo, vinhos, azeites… mas enquanto faz uma tranquila prova ou se refresca no jardim há um mundo selvagem lá fora! Bem, a expressão certa é silvestre, porque estamos a falar da nossa paisagem de características mediterrânicas, com um toque de algo muito Português: o montado de azinho e as manchas de prados e matos. É precisamente neste equilíbrio, delicado e dinâmico, entre o lado silvestre e o lado agrícola, onde estão as vinhas e os olivais, que se desenrola o drama quotidiano da vida na herdade para além do que estamos normalmente habituados.

OLHE PARA CIMA… E PARA BAIXO

Durante os dias quentes de Agosto a tendência é refugiarmo-nos à sombra, de forma a escapar do sol abrasador e do ar quente. Mas, enquanto procuramos abrigo, há quem ande por aí a rondar… Estamos na época de criação de muitas aves e há progenitores agitados pelos ares, em busca de refeições saudáveis para as suas crias. Com alguma sorte, podemos ver a visitante águia-pesqueira a sacar uma carpa da albufeira ou a tímida e rara cegonha-negra a sondar por rãs nas zonas paludosas e ribeirinhas.

São apenas dois exemplos de como a água se mostra um elemento chave entre a produção e a conservação da natureza. Sem água não era possível termos a dimensão da área agrícola que temos, mas também não seria possível atingir o grau de equilíbrio ambiental que ambicionamos se não a conservássemos na sua matriz natural: a albufeira e as zonas paludosas e ribeirinhas que constituem toda a bacia da ribeira da Caridade. Ribeira esta que alimenta a albufeira do Esporão, e o rio Degebe, um afluente do Guadiana que delimita a herdade a oeste e sul. Ao protegermos os nossos recursos aquáticos estamos a garantir a viabilidade da produção dentro dos limites da sustentabilidade e, simultaneamente, a criar habitats e condições para que a vida silvestre prospere e se desenvolva.

Além das variadíssimas espécies de aves que pode ver junto à albufeira e para sul do paredão, especialmente no início e no fim do dia, existem outras surpresas bem perto dos seus pés. Junto à albufeira é comum ver os rastos de pegadas e os restos de uma boa jantarada de lagostim-vermelho, tudo obra da família de lontras que tem vindo a prosperar na herdade. Tratam-se de animais muito inteligentes e esquivos, não se deixando ver com facilidade. No entanto, um observador atento pode tentar a sua sorte durante o lusco-fusco, altura em que, por vezes, aparecem alguns dos elementos mais jovens a passear, cujo chamamento para a brincadeira denuncia a sua presença.

Quem explorar os limites da albufeira do Esporão vai encontrar quer no topo norte como a sul do paredão zonas paludosas, de águas rasas com juncos, caniços, loendros e freixos, onde se sente uma fragrância muito típica do verão alentejano – são as mentas. Esta família de plantas inclui espécies facilmente reconhecíveis como o poejo, a hortelã-brava e a hortelã da ribeira, detectáveis por um olhar mais atento. E se tiver olho-de-lince, não vai encontrar o famoso felino, mas sim algumas surpresas mais saltitantes e rastejantes.

Nas zonas paludosas e ribeirinhas que marcam a matriz da paisagem, entre olivais e montado de azinho, vivem algumas espécies que têm grande importância no controlo biológico de potenciais pragas, como é o caso das relas, a arborícola e a meridional, o sapo-parteiro-ibérico e a rã-verde. Também temos caçadores de roedores como a cobra-rateira e a cobra-de-escada e uma alegre pescadora, a cobra-de-água-viperina que, por vezes, causa grandes sustos a quem anda à beira de água embora, apesar do nome assustador, seja completamente inofensiva.

PORQUE AGOSTO É MÊS DE ÁGUA

O mês que representa o pico do estio no Alentejo é para nós fundamental em termos de gestão inteligente da água. As vinhas estão na fase final da sua produção, a entrar faseadamente em vindima e a azeitona está a ganhar corpo – as exigências sobre os recursos hídricos estão no auge. Mas é precisamente a resiliência da biodiversidade, que constitui os habitats de protecção e de conservação da albufeira e da ribeira da Caridade, que representa o garante da sustentabilidade da produção.

Quando observamos o esvoaçar da libélula imperador-azul e da leste-verde estamos a ver algo mais do que uma dança de asas de organza, estamos a olhar para a segurança ambiental de um copo de Verdelho ou de um fio de azeite Cordovil.

Quando voltar a casa, já pela noite fresca, conduza devagar dentro da herdade: o turno da noite está a pegar ao serviço e vem ajudar a tratar das vinhas e dos olivais. Depois de passarem o dia escondidos nas zonas frescas junto à água e das árvores mais antigas, aparecem as raposas, ouriços-cacheiros e, com alguma sorte, mochos-galegos e corujas-do-mato. Muitos destes animais são susceptíveis a atropelamentos por encadeamento, por isso, conduza com (extra) precaução.

Após um dia a viver a experiência Esporão ainda pode ter ficado por conhecer alguma coisa do nosso lado selvagem. Por isso, volte sempre.

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