Esporão e os seus fornecedores
O reconhecido chef nova-iorquino e famoso ‘bad boy’ Anthony Bourdain afirmou, certa vez, que aprendemos muito sobre alguém quando partilhamos uma refeição com essa pessoa. De forma análoga, quando partilhamos tudo o que envolve fazer um vinho, também descobrimos aspectos absolutamente fundamentais para que quem o beba tenha um final feliz. No nosso caso, nunca foi segredo que, para atingir os níveis de produção que têm sustentado o crescimento da empresa foi fundamental ter uma boa rede de fornecedores de uvas e azeitonas, de forma a complementar a produção da Herdade do Esporão. Mas como criar esta rede de fornecedores? E como a gerir? Uma rede não é um sistema estanque, asséptico e fixo. Tratam-se de pessoas, hábitos, culturas e encontro de expectativas e necessidades. Trata-se, acima de tudo, de um enorme desafio para qualquer empresa que queira crescer de forma sustentável e em boa articulação com as comunidades locais onde opera.
PENSAR GLOBAL, AGIR LOCAL
O mercado global dos vinhos está sempre há procura de novidades e o lado excêntrico deste sector vive muitas vezes da recuperação de ideias quase tão antigas como a domesticação da uva silvestre. Inspirados por esta ideia da recuperação de tradições e produtos com valor histórico, surgiu-nos, em 2012, a ideia de fazer vinho da talha de forma a recuperar uma tradição milenar herdada do período romano em terras do Alentejo e, de imediato, surgiram-nos uma série de questões: onde vamos encontrar talhas, ou ânforas, que se adeqúem à produção de vinhos de qualidade? Em que estado estarão essas talhas, como se restauram, que técnicas e produtos devemos usar para as deixar prontas a produzir?
Estas grandes vasilhas de barro caíram em desuso, quer pela industrialização do sector, como pela percepção de que os vinhos “caseiros” seriam algo de arcaico e pouco interessante, o que tornou particularmente difícil perceber como íamos pôr esta vontade a funcionar. Fabricarmos as talhas estava fora de questão, portanto a solução lógica foi ir à comunidade local buscar, não só os recipientes, mas, tão importante, o saber tradicional que há sobre todo o processo de produção de vinho da talha.
Mas a questão não fica por aqui, agora há que saber com que castas se fará este vinho, quais as técnicas e métodos mais adequados para a sua produção e como irá evoluir o vinho, etc. Muito deste saber foi colhido entre produtores históricos da Vidigueira, Mourão, Reguengos de Monsaraz e outras terras onde a tradição ainda se mantinha. Este é um exemplo claro de como a comunidade local aportou valor ao nosso portefólio de vinhos e de como encontramos os fornecedores certos que nos ajudam a criar condições para inovarmos. Para responder às necessidades do mercado, fomos atrás de uma ideia e, para desenvolver essa ideia, fomos beber conhecimento e experiência à comunidade local.
SOBRE ROBUSTEZ, RESILIÊNCIA E LEITE ACHOCOLATADO
Há palavras que por serem tão parecidas escondem o que de profundamente diferente possuem. Imaginem o seguinte, um magnífico vaso de vidro português, belo, colorido e compacto. Sentimos que a peça é sólida e não partirá com facilidade. Até que alguém mais distraído a manda ao chão e a parte. A robustez permitiu que a peça aguentasse um certo nível de pressão mas, quando esse nível foi ultrapassado, quebrou e não voltará a ser a mesma. Agora, em vez de um vaso imagine uma t-shirt de algodão nova. A t-shirt pode ser usada, suja, enrolada, amassada e até esticada a um certo ponto, mas depois de lavada e engomada está praticamente igual a quando a vestiu. O tecido de algodão tem um certo nível de pressão, aguenta choques e torções, pode ser levada a certos limites mas, com algum cuidado recupera a sua forma inicial. A isto chama-se resiliência. E onde entra aqui o leite com chocolate? É já a seguir. Visualize a clássica garrafinha de leite achocolatado, pousada na prateleira do frigorífico há um par de dias. Quando pega na garrafa nota que o delicioso chocolate está no fundo da mesma e apercebe-se de que, para melhorar a sua experiência de consumidor vai agitar a garrafa para refazer o equilíbrio da mistura leite/chocolate, o célebre agitar antes de consumir. Isto é anti-fragilidade. Alguns produtos, serviços e até modelos de negócio atingem o seu ponto óptimo quando submetidos a uma certa dose de perturbação que permita ao sistema reagir de forma positiva à mesma.
Uma empresa que confia numa cadeia de fornecimento estática e de linha dura é robusta. Se prefere ter a sua cadeia de fornecimento controlada por contractos voláteis, que possam ser ajustados consoante as necessidades da empresa é, sem dúvida, resiliente. Mas, quando a empresa procura activamente soluções, transmite confiança e cria condições para a evolução das relações entre as várias partes interessadas da cadeia de fornecimento e partilha o valor criado pelo ecossistema empresa-fornecedores, torna-se, progressivamente, anti-frágil. A entrada de inovação no sistema gera por vezes turbulência, mas antecede grandes saltos em termos de resultado. No entanto, tal só acontece quando esta componente crucial tem condições para beneficiar da agitação e gerar maior valor ao sistema como um todo.
GERAR E GERIR COMPROMISSOS
No Esporão acreditamos na importância de estabelecer e fomentar uma relação gratificante com os nossos fornecedores, baseada no suporte mútuo, na cooperação e no respeito pelos compromissos assumidos. Desta forma, comprometemo-nos a actuar na procura de partilha de benefícios com a comunidade e do estabelecimento de relações de parceria e de valor acrescentado. Encaramos o nosso fornecedor como um parceiro crítico e indispensável para atingir os nossos objectivos, privilegiando sempre a constituição de laços duradouros, baseados em objectivos comuns de longo-prazo. Sendo a qualidade um alicerce dos nossos produtos, comprometemo-nos a criar produtos de excelência, mas também a estabelecer critérios exigentes na construção da relação entre a empresa e os fornecedores. Iremos activamente procurar manter ou obter certificações de Qualidade e Ambiente ao nível mais exigente e, principalmente, estabelecer processos interligados com os nossos fornecedores, que permitam melhorias contínuas mútuas e de verdadeira parceria.
Assumimos o compromisso de uma actuação ambiental e socialmente responsável, estabelecendo critérios e modos de actuar concretos que promovam a sua sustentabilidade. Assumimos o compromisso de ser um factor de estabilidade económica, ao procurar honrar e cumprir todos os nossos compromissos, tanto em valor como em prazo, com especial atenção no pagamento nos prazos acordados. Assumimos o “Compromisso de Pagamento Pontual aos Fornecedores” (promovido pela ACEGE) sobre a regularização de todas as facturas dentro do prazo de pagamento. Queremos apoiar os nossos colaboradores no estabelecimento de relações de isenção e integridade na sua relação com fornecedores actuais e potenciais. Promovemos um ambiente em que são estritamente proibidas situações de corrupção ou de favorecimento pessoal, exaltando a transparência e imparcialidade na nossa actuação.
Estas são as nossas linhas de orientação, a legenda do mapa que nos guia no desenvolvimento de um ecossistema empresarial saudável e sustentável.