voltar

Emília Cristina - Monte Velho

Comunidade
Alentejo

Os tapetes de Arraiolos viajaram do Alentejo para todo o mundo. Conhecidos pelos padrões tradicionais com flores, são normalmente bordados por mulheres que dedicaram toda a sua vida a esta arte. Quando se pensa na sua origem e centro de produção, Arraiolos é resposta imediata. A verdade é que pouco se sabe sobre a sua verdadeira origem, mas foi nesta terra alentejana que se estabeleceram. Actualmente, como tantas outras tradições, a tapeçaria é uma arte que corre o risco de se perder. Em Arraiolos, as fábricas vão fechando e é preciso bater na porta certa para encontrar uma artesã que ainda borde.

Pedro e a Loja é o letreiro do número 35 da rua Actor Vale, em Lisboa. Batemos à porta. Assim que se abriu, aquele lugar que antes era uma tela em branco, pintou-se de cor. Há tapetes por todo o lado - nas paredes e no chão -, e uma estante enorme repleta de novelos de lã de mil cores. No meio desta confusão de objectos, padrões e tons, apareceu Emília Cristina, que nos recebeu como se já nos conhecêssemos.

“Sabem, gostava de ter nascido no Alentejo”. Esta foi uma das primeiras coisas que nos contou e que agarrámos para descobrir como é que uma lisboeta de gema acabou por dedicar a sua vida aos tapetes de Arraiolos. “Conheci a técnica de Arraiolos no liceu. Nas aulas de lavores, escolhi esta opção por já saber fazer todas as outras – tricô, croché e bordados”. O tapete que começou na escola nunca foi terminado por não se identificar com as cores e com o desenho, mas a aprendizagem ficou.

A sua vida seguiu com um emprego “normal” numa grande empresa enquanto ia fazendo algumas coisas de tricô e croché em casa. E foi nos anos 80, quando as pessoas começaram a tirar as alcatifas das casas e a colocar cera acrílica e verniz no chão, que reencontrou os tapetes de Arraiolos. “Uma colega de trabalho perguntou-me se eu sabia fazer estes tapetes e eu disse que sim. Ela queria que eu lhe fizesse um, mas eu decidi ensiná-la. Resumo da história: acabei por ser eu a acabar o tapete. Depois deste, mais colegas começaram a pedir… e quando dei por mim tinha trabalho para os próximos três anos. Saí da empresa onde trabalhava e dediquei-me aos tapetes”.

A loja onde comprava materiais também começou a pedir-lhe restauros, lavagens, franjas novas, entre outras coisas. “Comecei a trabalhar com a loja. De tal forma que, ao fim de alguns anos, acabei por ficar como responsável do espaço e respectiva carteira de clientes”.

E, como em tudo, um cliente satisfeito passa a palavra. A qualidade e consistência do seu trabalho foram fidelizando quem a procurava e fazendo o negócio crescer. Hoje tem famílias inteiras e amigos que chegam até si não só para restauros, mas também com projectos diferentes. “Do velho, faço novo. E faço tapetes especiais, com tamanhos e cores que não são habituais nos tapetes clássicos. Se alguém quer uma cópia de uma fotografia, uma paisagem ou algo muito específico, eu faço”.

A Dona Emília faz a sua parte na conservação e valorização dos tapetes de Arraiolos. Dedica os seus dias à arte e partilha-a com os outros. “Tudo mudou nos últimos 20 anos e, se calhar, o Arraiolos precisa de mudar a sua mentalidade. A técnica tem de acompanhar a evolução, não se pode limitar e ficar estagnada no passado. Podemos modernizar os tapetes”.

Desafiámos a Dona Emília a fazer dois tapetes que ilustrassem as garrafas de Monte Velho branco e tinto. O seu entusiasmo pelo projecto foi imediato. “Colaborações como estas ajudam a divulgar a arte. Um tapete deste tamanho, que vai ser mostrado em diversos lugares, permite partilhar com as pessoas uma nova vida dos Arraiolos”.

Rapidamente percebemos de que teríamos vários meses de trabalho pela frente. A sua execução inicia muito antes de se começar a bordar. Procurar a melhor imagem, as cores certas, acertar tamanhos e fazer a ampliação do desenho para que que tudo fique proporcional. A partir daí, fazendo as contas, foram cerca de 500 horas a bordar. “160 gramas de lã demoram cerca de onze horas a bordar, a tapeçaria é uma arte manual, feita ponto por ponto. O seu ritmo depende das mãos que a criam. Não dá para fazer depressa, tal como o vinho”. Prova maior disso mesmo é o facto de que, provavelmente, a Dona Emília ainda está, neste momento, a bordar o tapete de Monte Velho tinto.

O Esporão defende o consumo responsável e moderado de bebidas alcoólicas. Para aceder a este website deve ter idade legal para consumo de bebidas alcoólicas no seu país, selecionando uma das opções abaixo. Se for esse o caso, isto irá permitir-lhe ter acesso a uma experiência completa, ativando o som das colunas. Tem idade legal para beber no país onde se encontra neste momento?

Não