A natureza dos detalhes
Quando um vinho chega à mesa, naturalmente tem uma história para contar. O Esporão Colheita conta muito, a começar pelo rótulo, uma sinopse visual da natureza dos detalhes que fazem o primeiro vinho biológico da Herdade.
O sol, uma nuvem e umas gotas de chuva remetem para os Invernos frios e Verões quentes da região. A folha de videira e o cacho de uvas apontam para a especificidade das castas, Cabernet Sauvignon e Touriga Franca no tinto, Antão Vaz no branco. A pequena minhoca e os micro-organismos do solo simbolizam os auxiliares fundamentais da agricultura biológica. As ondas de água, as pedras e as raízes dizem respeito ao que acontece debaixo da terra, e há ainda um número “7” e um “b” minúsculo para assinalar as sete tipologias de solo da Herdade do Esporão e a natureza biológica do que vamos beber.
Estes são os ícones desta narrativa, descortinados por Eduardo Aires, autor da imagem gráfica do Esporão Colheita.
“Os símbolos surgem de um processo de síntese relativo a todos os elementos naturais que estiveram no processo de elaboração deste vinho. Desde as questões ambientais, ao território, ao terroir, passando inclusivamente pela representação das túlipas onde o vinho evolui". — Eduardo Aires
É aqui que a enóloga Sandra Alves entra na conversa para revelar um dos segredos da pureza do Colheita.
«As túlipas de betão ajudam a manter este carácter, mais terra, mais elementar do vinho.»
Quando se tem os elementos terra, água, sol e ar na nossa equipa, não queremos escondê-los, mas potenciá-los. Tudo o resto é supérfluo. Basta um pequeno passeio pelo vinhedo biológico para que toda a biodiversidade se revele, rica e equilibrada, onde todos têm um papel.
Encontramos, por exemplo, amoras de silvas, abrunheiro bravo e madressilva, entre outras plantas hospedeiras dos insectos auxiliares. Por prevenirem muitas pragas, a crisopa e a joaninha-de-sete-pintas, estão nos nossos agradecimentos.
Nos 7 solos da herdade desenvolvem-se também os micro-organismos essenciais à decomposição da matéria orgânica. E, assim, as raízes absorvem nutrientes cruciais para uma vinha saudável.
No Verão foram introduzidos enrelvamentos e sebes que ajudam os auxiliares a sentirem-se em casa. Apesar de não estarem presentes no rótulo do Colheita há mais intervenientes a agradecer.
Os morcegos que vivem nos abrigos construídos de propósito, alimentam-se das traças que poderiam prejudicar a vinha. O pastoreio de ovelhas toma conta da vegetação espontânea nas parcelas contíguas à vinha, o que previne incêndios florestais. Quanto às galinhas, ajudam as ovelhas, controlam pragas do solo e polinizam as sementeiras dos solos.
Rui Flores, gestor agrícola da Herdade, acrescenta: «estas e outras práticas levaram-nos a trabalhar na Natureza dos detalhes e assim atingir os nossos objectivos. Este foi o caminho que talhámos e em que acreditamos».
“Tornámo-nos mais cuidadosos e atentos na vinha até chegarmos a uma agricultura biológica. Não aconteceu de um dia para o outro, foi um longo processo de trabalho e respeito pela Natureza. — David Baverstock
Caso esteja a ponderar se tantos detalhes fazem realmente a diferença, pedimos mais umas palavras emprestadas, agora a José Roquette. «Há quem seja mais exigente, vá mais a fundo e goste de conhecer a história do vinho, de saber como é que aquela garrafa que está em cima da mesa chegou até ali.»
E João Roquete remata. «Este é o primeiro vinho que estamos a lançar que reflecte a 100% o caminho que começámos a construir com a introdução do modelo de agricultura biológica. Este lançamento serve de ponto de inflexão – a partir de agora, e à medida que as vinhas forem recebendo o certificado de agricultura biológica, os vinhos do Esporão que conhecemos, e que estão no mercado há vários anos, vão passar a ser também biológicos.»
Actualmente já toda a Herdade do Esporão se encontra em produção biológica. O passo natural seguinte é a certificação em curso, que começou com a área de vinha correspondente à do Esporão Colheita. No ano de 2021 poderemos brindar ao fim deste delicado processo, momento em que teremos cerca de 700 hectares de vinha em total sintonia (e parceria) com a natureza.
Com o nosso exigente primeiro vinho biológico recordámos os elementos, práticas, auxiliares, amigos e família que nos acompanharam até aqui, desde a Herdade até à mesa, passando pela terra, pelos frutos e pelas adegas. Esta história de inconformismo e equilíbrio já vai longa, mas felizmente, como dizem os antigos, «à mesa ninguém se faz velho».